Tragédia
ou privilégio do pequeno Aylan Kurdi?
Aylan Kurdi, encontrado morto numa praia da Turquia, ao tentar fugir com sua família do estado caótico em que se encontra seu país (Nilufer Demir/Reuters)
Autêntica ou artificialmente, a figura
do menino sírio Aylan Kurdi – encontrado morto numa praia da
Turquia, ao tentar fugir com sua família do estado caótico em que se encontra
seu país – repercutiu em todos os meios de comunicação.
Quem possuir algum sentimento de alma,
não pode ter ficado impassível ante sua imagem, debruço e a cabeça enterrada na
areia, nem ao drama de sua família e de todas as populações que se encontram em
situação análoga.
As atitudes e opiniões a propósito do
triste acontecimento se dividiram. Muitos foram inculpados, especialmente os
países ricos, acusados de falta de senso humanitário por dificultarem o
acolhimento de pessoas atingidas por tamanha tragédia.
No entanto, acho que não foi essa a
verdadeira causa do ocorrido. Pretendo expor aqui outras considerações que
povoaram então a minha mente. E elas dizem respeito ao fato de que, no volumoso
noticiário sobre a morte do menino, não pude saber que religião professava os
seus pais.
De acordo com os ensinamentos da Santa
Igreja Católica, religião que professo com todas as veras de minha alma, esse
garoto salvou a sua alma. Nossa fé ensina que, salvo raríssimas exceções, só
atingimos a idade da razão por volta dos sete anos. Antes disto não somos
responsáveis pelos nossos atos, incapazes, portanto, de ofender gravemente a
Deus.
Aylan kurdi ao morrer tinha três anos de
idade. Caso ele tenha sido validamente batizado, sua alma está diante da
Santíssima Trindade, dos Anjos e dos bem-aventurados por toda a eternidade.
Sabe-se bem o que é isso? Milhões e milhões de anos numa felicidade plena, sem
nunca acabar, pois é eterna!
Caso ele não tenha sido batizado, onde
estará a sua alma inocente? Deixo o problema aos teólogos. Segundo sempre
aprendemos, estaria no Limbo, isto é, usufruindo de uma felicidade natural em
sua plenitude. O certo é que perdido ele não está.
Claro que gostaríamos que Aylan vivesse
por muitos e muitos anos, e chegasse a um auge de perfeição desejada pela
Divina Providência. E depois, com a alma na amizade de Deus, ganhasse o céu por
toda a eternidade. Devido às circunstâncias da impiedade hodierna, pergunto
apenas se esse menino não acabou ganhando, pois Deus Nosso Senhor tem suas
vias, e quão misteriosas elas são.
Aylan kurdi morreu tragicamente, mas
expirou inocente. Que ele rogue à Virgem Santíssima e ao Seu Divino Filho que
nos abençoem e protejam, e vele por nossos filhos e nossas famílias, a fim de
que nós, que ainda habitamos neste vale de lágrimas, não caiamos em tamanha
desgraça.
Sobre
Sergio Bertoli
Católico,
professor, jornalista, discípulo do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira.
Foto junto a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima que chorou em New Orleans USA - 1992. Em despedida rumo aquele país no aeroporto de Guarulhos 7/10/2015.